O Grupo Stellantis lançou essa semana a nova Fiat Titano com produção na Argentina. É a primeira de uma “família de modelos” a ser produzida no complexo, sob o nome de Projeto KP1: um investimento de US$ 385 milhões para instalar novas picapes e motores na fábrica do país vizinho.
A cobertura completa das notícias sobre o lançamento industrial foi publicado ontem. No entanto, agora podemos contar o que a equipe do Motor1 viu na semana passada: Nossos colegas argentinos visitaram (sob sigilo) a fábrica de Ferreyra para ver de perto a Titano fabricada lá, onde puderam conhecer todas as características técnicas do produto e os detalhes desse investimento na mesma fábrica onde o Projeto KP1 já convive com o Fiat Cronos.
O lançamento comercial da Titano será no final de junho. Tudo o que foi visto, aprendido, perguntado e descoberto em Córdoba está reproduzido abaixo.
Foto de: Motor1 Argentina
Os segredos da Fiat Titano de Córdoba
1. Projeto KP1: Esse era o código interno com o qual era conhecido secretamente esse projeto industrial, que começou a ser trabalhado na fábrica de Ferreyra no início de 2022. Bom, era secreto até que Motor1.com Argenitna publicou o furo em outubro de 2022. Além do investimento de US$ 385 milhões, isso envolveu a transferência de um projeto inteiro do Uruguai para a Argentina. As picapes Fiat Titano e Peugeot Landtrek foram fabricadas até fevereiro de 2025 na fábrica da Nordex, que o empresário argentino Manuel Antelo tem em Montevidéu (em parceria com a Stellantis).

Foto de: Motor1 Argentina
A produção desses dois modelos no Uruguai foi encerrada e todo o projeto foi transferido para Córdoba, com uma diferença importante. Enquanto na Nordex as picapes eram montadas em formato CKD (com kits de peças vindos da China), em Ferreyra será realizado um processo industrial mais complexo, com nacionalização de várias peças, inclusive os motores.


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2. “Família de produtos”: Quando Stellantis diz que o Projeto KP1 consiste em uma “família de produtos”, ele quer dizer que a Titano não será o único modelo a ser produzido com esse investimento. Com a Peugeot Landtrek praticamente descartada, tudo indica que a outra picape a ser produzida com a mesma plataforma e mecânica será a Ram 1200, que também é fabricada na China e já é comercializada no México. A outra perna do investimento é a produção na Argentina do motor B 2.2 Multijet, que inicialmente será importado da Itália e será montado no país vizinho a partir de 2027.

Foto de: Motor1 Argentina
3. Integração de peças: A Titano argentina iniciará a produção com uma integração de 30% de peças locais, incluindo carroceria, para-choques, assentos, tanque de combustível e pneus. Já estão em andamento os trabalhos para nacionalizar outros componentes, como o chassi, que atualmente é importado da China, mas poderia ser produzido em Córdoba pela Maxion Montich, afetada pelo cancelamento da Nissan Frontier e da Renault Alaskan na mesma província.
O motor é atualmente importado da Itália, mas – como mencionado acima – será nacional a partir de 2027. Para efeito de comparação, o Fiat Cronos, que compartilha a fábrica de Ferreyra com a Titano, tem 70% de peças nacionais. A Toyota Hilux e a Ford Ranger têm cerca de 60% de integração local na Argentina.

Foto de: Motor1 Argentina
4. Capacidade de produção: Com mais de 460 mil unidades produzidas desde 2018, o Fiat Cronos continuará sendo o produto mais importante da fábrica de Ferreyra. Hoje, 62% da capacidade de produção da fábrica é dedicada ao sedã. Os outros 38% são dedicados à Titano.
Este mês começou com oito Titano sendo produzidas por hora, com produção de 15.000 unidades por ano. No entanto, com a chegada dos outros produtos da “família de modelos”, a ideia é aumentar para 40.000 picapes por ano. O principal mercado de exportação da Titano, assim como o do Cronos, é o Brasil.

5. A plataforma: A Fiat Titano, a Ram 1200 e a Peugeot Landtrek foram desenvolvidas há mais de cinco anos com base na plataforma da Changan Hunter, nascida na China. Trata-se de um veículo que já foi descontinuado e substituído em seu mercado de origem, mas cujos componentes (como o chassi e outras peças assinadas pela chinesa) chegam à Argentina para a montagem da Titano. Em uma primeira etapa, a Titano só será fabricada por lá com carroceria de cabine dupla, motor diesel e suspensão traseira com feixes de mola.

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6. O motor: Todas as Titano produzidas na Argentina terão o mesmo motor, que será importado da Itália e fabricado em Córdoba a partir de 2027: é o 2.2 Multijet II, já utilizado em outros mercados por vários modelos da Fiat (Ducato, Toro e Scudo) e da Jeep (Commander, Wrangler e Cherokee). No Brasil, pode ser encontrado em Ram Rapage, Fiat Toro e Jeep Commander.
Trata-se de um diesel de 2.184 cc com quatro cilindros, turbo de geometria variável e capaz de render 200 cv de potência e 45,9 kgfm de torque. São 20 cv e 5,1 kgfm extras na comparação com o atual motor usado na Titano.

Foto de: Motor1 Argentina
7. Caixas de câmbio: Esse motor pode ser combinado com dois tipos de transmissão: manual de seis marchas (Magna 6MT) e automática de oito marchas (ZF 8HP50), também utilizadas pelos modelos da Fiat, Jeep e Alfa Romeo.

8. Tração: Na Argenitna, a picape estará disponível com tração 4×2 (traseira) ou 4×4 com caixa de redução. O Brasil oferece apenas variantes 4×4. A caixa de transferência para a reduzida é fornecida pela é Borg Warner, com três opções de tração: 2H (4×2 em “high”), 4Auto (4×4 com engate automático, que engata o diferencial dianteiro somente quando detecta perda de aderência na traseira) e 4L (4×4 com caixa de redução). A picape vem com bloqueio do diferencial traseiro e assistência para descida de ladeiras.

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9. Desempenho: Os números oficiais declarados pela Stellantis para a Titano 2.2 AT8 4×4 são os seguintes: aceleração de 0 a 100 km/h em 9,9 segundos; consumo na estrada de 10,8 km/l; consumo na cidade de 9,1 km/l; capacidade de carga de 1.000 kg; e capacidade de reboque de 3.500 kg.

Foto de: Motor1 Argentina
10. Direção e segurança: Em comparação com a Titano uruguaia, a direção hidráulica foi abandonada e um novo sistema com assistência elétrica foi adotado. Isso permitiu a aplicação de vários auxílios à condução (ADAS), como a Frenagem de Emergência Autônoma e o Alerta de Saída de Faixa, entre outros.

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11. Diferenças em relação à Titano uruguaia: A principal crítica fita à Titano uruguaia quando chegou ao Brasil foi seu rodar áspero, duro e rústico. A melhoria do produto fabricado na Argentina foi realizada pelo centro de desenvolvimento da Stellantis em Betim (MG), com testes em estradas off-road e dunas em Natal (RN). A empresa diz que o trabalho foi feito no conforto da suspensão e no ajuste do motor e da transmissão.

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12. Cores: As cores da carroceria do Titano serão Branco Banchisa (sólida), Branco Alaska (sólida), Prata Bari (metálica), Preto Vulcano (sólida), Vermelho Montecarlo (sólida) e Cinza Silverstone (metálico).

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13. Empregos: Juntamente com o investimento de US$ 385 milhões, o Projeto KP1 criou 1.800 novos empregos na fábrica de Ferreyra, metade dos quais serão ocupados por mulheres em setores incomuns, como carroceria, pintura e soldagem. Todos os novos trabalhadores foram treinados pelos trabalhadores históricos da linha de produção do Fiat Cronos.
A Titano e o Cronos compartilharão vários setores da linha de produção, como Pintura, Montagem Final e Controle de Qualidade, entre outros. A pista de testes da Ferreyra incorporou uma seção especial, com obstáculos e testes específicos para picapes.