O fim de Odete Roitman na versão 2025 da novela Vale Tudo lembra a história de certos carros que já foram famosos no Brasil, mas há muito saíram de cena. Como a vilã mais querida do país, eles parecem ter morrido — mas continuam firmes e fortes em outros países. Mudaram de aparência, passaram por profundas transformações, mas, como disse a personagem: “Odete Roitman sempre volta.”
Vamos ver em que pé estão esses remakes.
Astra
Entre 1994 e 2011, o Astra foi vendido no Brasil — primeiro na geração F, importada da Bélgica, e a partir de 1998, na geração G, fabricada em São Caetano do Sul (SP). Podemos considerar ainda o Vectra GT, que era basicamente a geração H do Opel Astra europeu “remasterizada” para produção no Brasil (entre 2006 e 2011). Depois disso, nunca mais o modelo deu as caras por aqui.
O atual Opel Astra, lançado na Europa em novembro de 2021, representa a sexta geração do modelo, denominada Astra L. Desenvolvido sobre a plataforma EMP2 do grupo Stellantis, a mesma utilizada por modelos como o Peugeot 308 II, ele é feito em Rüsselsheim, na Alemanha.
Tem design moderno, com linhas retas, e uma gama de motorização mais diversificada, incluindo versões híbridas plug-in (PHEV) com potência variando de 180 a 225 cv, além de uma versão totalmente elétrica com motor de 156 cv. A configuração de entrada traz o motor PSA PureTech 1.2 turbo, de 110 cv.
É um carro bem maior que os últimos Astra produzidos no Brasil e sai com carrocerias hatch (4,37 m de comprimento) e wagon (Tourer, de 4,64 m). Na Inglaterra, ambos são vendidos com a marca Vauxhall.

Foto de: Jason Vogel
Corsa
O Brasil teve duas gerações do Corsa (B e C) entre 1994 e 2016, e o compacto deixou saudades.
Hoje, o Corsa europeu está em sua sexta geração (F), lançada em 2019 e atualizada em 2023 — o primeiro modelo lançado depois que a PSA comprou a Opel. Fabricado em Zaragoza, na Espanha, já não tem nada de General Motors. Sua plataforma é a CMP/EMP1, a mesma do Peugeot 208 II. Até o entre-eixos é igual.
Há opções de motores a gasolina (1.2 turbo PureTech) e a diesel (BlueHDi 1.5), além do Corsa-e totalmente elétrico, de 136 cv. Em resumo: o Corsa hoje é um Peugeot 208 com outra roupa.
Em 2024, o Opel Corsa manteve sua posição de destaque no mercado europeu, especialmente na Alemanha, onde liderou o segmento de compactos com 43.467 unidades registradas. Foi o quarto ano consecutivo no topo da categoria.

Opel Zafira Electric GS Anuncio Chevrolet Expresso de Aço 1958
Foto de: Jason Vogel
Zafira
Fruto da febre das minivans, a Chevrolet Zafira foi fabricada no Brasil em apenas uma geração, entre 2001 e 2012. Saiu de cena junto com a irmã menor Meriva, abrindo espaço para a chegada da Spin.
Na Europa, contudo, a carreira da Opel Zafira continuou. A segunda geração chegou em 2005, a terceira estreou em 2011 e a quarta, em 2019 — já sob o domínio da PSA e, logo depois, da Stellantis.
Hoje chamada de Zafira Life, a van já não tem nada de General Motors. É puro fruto do badge engineering: nada além de uma Citroën SpaceTourer/Peugeot Traveller/Toyota ProAce Verso II com o escudinho da Opel na grade. No Reino Unido, o modelo é comercializado como Vauxhall Vivaro Life.
Com comprimento variando entre 4,96 m e 5,33 m, a atual geração é bem maior que suas antecessoras, e mais quadradona também. A vantagem é que há uma configuração com nove lugares. Há versões a diesel e elétricas. A van é produzida em Hordain, na França.
Renault Clio
O Clio chegou ao Brasil ainda em sua primeira geração, importado da Argentina a partir de 1996. Em novembro de 1999, sua segunda geração começou a ser feita em São José dos Pinhais (PR). Inicialmente chamava a atenção por trazer airbag duplo de série, mesmo na versão de entrada. Teve ainda uma versão sedã. Com o lançamento de Logan e Sandero, sua linha de produção foi transferida para Córdoba, na Argentina.
Os últimos Clio foram vendidos aqui em 2016. Ainda eram os modelos de segunda geração — numa época em que a França já estava no Clio IV. Em 2019, chegou à Europa o Clio V, que está em linha até hoje (com produção na Turquia e na Eslovênia).
Enquanto na América do Sul o modelo ficou cada vez mais depenado e acabou dando lugar ao básico Kwid (por um lado) e ao Sandero (por outro), na França o hatch cresceu e apareceu. É uma espécie de opção premium no segmento B. A estratégia tem dado certo: nos últimos anos, o Clio sempre vem figurando entre os modelos mais vendidos na Europa.
O Clio VI, o mais arrojado de todos os tempos, foi mostrado mês passado no IAA, em Munique, e chegará às concessionárias europeias no ano que vem. Sua versão topo de linha será híbrida, com motor 1.8 a gasolina combinado a dois elétricos, e potência combinada de 160 cv.

Renault Scénic E-Tech electric
Foto de: Jason Vogel
Renault Scenic
O primeiro produto da fábrica da Renault em São José dos Pinhais (PR) foi a Scénic. Tinha um conceito bem moderno para 1998: compacta por fora, cabine avançada, grande espaço interno, banco traseiro mais alto que os dianteiros e, vejam só, duas mesinhas — iguais às de avião — para quem ia lá atrás! Com ótimo custo-benefício, o modelo foi um sucesso.
A versão nacional ficou em linha até 2010. Nesse meio tempo, apareceu por aqui uma segunda geração importada da França, a Grand Scénic, que não vendeu nada e caiu no esquecimento.
Hoje, a Scénic europeia já está em sua quinta geração, que estreou em 2023. É a super moderna Renault Scénic E-Tech, que está mais para SUV do que para minivan.
Não existem mais versões a combustão — só elétricas, com motor dianteiro e potência de 170 ou 220 cv. Uma das configurações, com bateria de 87 kWh, promete autonomia de até 620 km no ciclo WLTP. Sua plataforma é compartilhada com o ótimo Mégane E-Tech, e ambos são produzidos em Douai, no norte da França (uma fábrica que faz a Scénic desde a primeira geração).
Logan e Sandero
Projetado na Europa como Dacia, o Logan chegou ao Brasil em 2007 trazendo na grade o losango da Renault. Fabricado em São José dos Pinhais (PR), veio com a proposta de ser um sedã compacto “pero no mucho”, com muito espaço interno, porta-malas enorme e, ao mesmo tempo, acabamento simples, mecânica robusta e preço em conta. Teve duas gerações por aqui e só saiu de cena em 2024, após 17 anos no mercado brasileiro.
Na Europa, o Dacia Logan está na terceira geração desde 2020 e já passou por duas plásticas desde então. Fabricado em Mioveni, na Romênia, usa a mesma plataforma do Kardian brasileiro. Com 4,40 m de comprimento e 2,65 m de entre-eixos, é pouco maior que o último Logan feito no Paraná.

Foto de: Jason Vogel
O design foi modernizado, com faróis de LED e grade frontal mais imponente, mas o modelo mantém sua proposta de ser um veículo acessível e funcional, com foco em eficiência e custo-benefício.
Há opções com gasolina ou GLP (gás liquefeito de petróleo), sempre com o motor 1.0 de três cilindros, aspirado ou turbo. Há também versões a diesel.
Mas quem faz realmente sucesso na Europa é o “irmão” Dacia Sandero III — simplesmente o carro mais vendido por lá, com 128.842 unidades no primeiro semestre deste ano. Num mercado em crise e com automóveis cada vez mais caros, o espaçoso e robusto Sandero é o modelo mais barato do continente: custa a partir de 11.900 € na Itália (R$ 74.800, na conversão direta). Além da Romênia, o hatch também é feito no Marrocos.

Volkswagen Passat Pro chinês 2025
Foto de: Jason Vogel
VW Passat
O Passat foi vendido no Brasil por muitos anos, com produção nacional entre 1974 e 1988 e, depois, como importado a partir de 1994. Em agosto de 2020, o modelo deixou de ser comercializado aqui — na época, estava em sua oitava geração.
Lá fora, contudo, o Passat continuou sua marcha. Ou melhor: os Passat, já que há o modelo alemão e o chinês, bem diferentes entre si.

Volkswagen Passat Variant B9 europeia
Foto de: Jason Vogel
O atual Passat europeu está na geração B9, produzida em Bratislava, na Eslováquia. Sua versão sedã sequer foi lançada, abrindo espaço para o elétrico ID.7. Hoje, o Passat europeu é vendido somente como station wagon (Variant). Construído sobre a plataforma MQB Evo, tem 2,84 m de entre-eixos e 4,91 m de comprimento. Prioriza dirigibilidade, eficiência e tecnologias avançadas, incluindo faróis IQ.Light Matrix LED, além de opções a gasolina, diesel e híbridas plug-in. Os preços começam em 42.540 € (R$ 267 mil).
Já o modelo chinês, fabricado pela SAIC-Volkswagen, continua a sair apenas como sedã e se chama Passat Pro. Também usa a plataforma MQB Evo, mas em versão esticada, com 2,87 m de entre-eixos — o comprimento total é de 5 metros. Isso reflete a preferência do mercado chinês por espaçosos modelos três volumes. Há versões 1.5 turbo (EA211) e 2.0 turbo (EA888) a gasolina, como na Europa. Mas nada de diesel ou híbridas.
Bom mesmo é o precinho: a partir de 169.900 yuans (R$ 129 mil na conversão direta), menos da metade do que custa o modelo europeu.

Ford Mondeo ST-Line chinês
Foto de: Jason Vogel
Ford Mondeo
A ordem na Ford foi matar todos os compactos, sedãs e hatches “comuns”, deixando apenas SUVs, picapes, veículos comerciais e, claro, os Mustang. Assim, bons carros como Ka, Fiesta e Focus saíram de linha e entraram para a história.
Mas, alto lá… o Mondeo — aquele sedã executivo europeu que foi vendido no Brasil entre 1995 e 2006 e tanto amávamos dirigir — ainda resiste na China. A chamada sexta geração é fabricada pela Changan Ford exclusivamente para aquele mercado.
Tem 4,93 m de comprimento e 2,94 m de entre-eixos — bem ao estilo sedã grande que os chineses tanto curtem. Lançado em janeiro de 2022, o atual Mondeo é montado sobre a plataforma C2, compartilhada com modelos como o Lincoln Z e o Ford Evos.
Aliás, vale dizer que o tal Ford Evos, um crossover lançado na China em 2021, mostrou-se um tremendo fracasso comercial e acabou tendo seu nome trocado para… Mondeo Sport!
Há versões híbridas e 100% a combustão, com motores 1.5 turbo e 2.0 turbo. O modelo é exportado para os Emirados Árabes, onde é vendido como Ford Taurus.

Foto de: Jason Vogel
Fiat Doblò
O Fiat Doblò teve uma longa história no Brasil. Começou a ser fabricado em Betim (MG) em 2001. Era feio, mas extremamente útil: podia levar até sete passageiros e tinha versões de carga. Ao longo do tempo, ganhou uma versão fora de estrada (Adventure), usou motor GM Família I por uns tempos, depois os E.torQ, e passou por algumas plásticas. Ficou 20 anos no mercado — quando saiu de linha no Brasil, em dezembro de 2021, muita gente pensava que ele já estava morto há tempos.
Na Europa, o modelo teve uma segunda geração, fabricada na Turquia entre 2009 e 2022, e que chegou a ser exportada até para os Estados Unidos (com motor Tigershark 2.4 e o nome RAM ProMaster City, acredite se quiser).

Foto de: Jason Vogel
Com 4,4 m de comprimento (4,75 m na versão Maxi), o modelo atual é mais comprido e mais baixo que o fabricado no Brasil. Pode levar mais de 750 kg. Sua frente é lisa, com um grande logotipo da Fiat; a abertura para o radiador vai no para-choque.
Hoje há versões com motor 1.2 THP PureTech a gasolina ou 1.5 turbodiesel BlueHDi. De início, porém, todos os Doblò III eram elétricos com motor de 136 cv. E, dizem, é assim que o Doblò — ou melhor, E-Doblò — voltará ao Brasil, desta vez via Europa e somente em versões de carga.

Chevrolet Monza chinês – o fim está próximo
Foto de: Jason Vogel
Os que morreram de novo
Para alguns modelos reencarnados, não houve jeito. Em novembro, a Ford da Alemanha produzirá o derradeiro exemplar do Focus de quarta geração. Em junho do ano que vem, será a vez de o Fiat Tipo feito na Turquia (o Aegea) sair de cena. E os VW Santana, Chevrolet Monza e Ford Escort chineses já tiveram seu capítulo final. Quem sabe não vem uma continuação?
